As pessoas não sabem o bem que me fazem. As coisas mais simples são as que mais me deixam feliz. Um dia ruim pode ser amenizado pelo sorriso de alguém que gosto. Os problemas se tornam menores quando tenho alguém com quem possa compartilhá-los. Saber que posso contar com as pessoas, mesmo que sejam poucas, me faz ter vontade de seguir em frente. Receber um elogio espontâneo pode mudar meu dia. 





Um abraço tem o poder de me deixar confortável e segura. Jogar conversa fora sempre é interessante. Ouvir um “eu te amo” enche meu coração de alegria. Rir com os amigos não tem preço. Brincar com crianças me faz ser criança novamente. Ser acolhida pela família faz o amor no meu coração transbordar. Aproveitar as pequenas coisas da vida é o que a torna melhor.

Ser feminista me engrandece enquanto pessoa. Consigo perceber a sociedade de forma muito mais consciente. Tenho uma noção muito mais clara quanto ao sistema de opressão que vivemos atualmente. Tenho apenas que agradecer aos movimentos feministas pela conquista de direitos femininos. Mas a luta ainda não acabou. Muito ainda há de ser conquistado. Vivemos em uma sociedade teoricamente igualitária. Mas na prática não é bem assim que as coisas funcionam. Sou julgada pela roupa que me visto. Sou criticada pela quantidade de homens com quem me relaciono. Ao exercer determinada função tenho chances de receber remuneração inferior a um homem que faz o mesmo que eu. Não posso sair sozinha à noite, pois existe a possibilidade de ser estuprada e a sociedade dirá que a culpa é minha. Se engravidar, não posso decidir se quero ou não ter filhos, o Estado não me deixa decidir sobre meu próprio corpo. E se estiver em um relacionamento afetivo e sofrer violência doméstica? Será que a lei vai realmente me proteger?





Eu me sinto bem estando sozinha. Gosto de ser livre. Me sinto bem em poder aproveitar a vida da forma como eu quiser. Fico feliz em não precisar dar satisfações para ninguém. Posso sair e me divertir com as amigas. Posso viajar sozinha e conhecer lugares incríveis. Em momentos de carência, me entrego ao sexo casual ou descubro novas formas de provocar prazer ao meu próprio corpo.
Posso ser feliz sozinha. Mas ao mesmo tempo me parece que falta algo, como se talvez eu não pudesse, de fato, ser feliz sozinha. Seria incrível poder ter alguém para dividir minha vida, compartilhar meus bons e maus momentos. Ter alguém que pudesse me entender e estar ao meu lado. No fundo eu sei que isso não é algo que eu realmente precise, mas é comum surgir certa insegurança em imaginar meu futuro sem alguém que possa cumprir esse papel.
Aprendi a aproveitar minha própria solidão, a estar bem comiga mesma. Hoje tenho certeza que a melhor companhia que eu posso ter sou eu. Meus relacionamentos passados não foram bons o suficiente justamente por eu “precisar” de alguém. Hoje eu não preciso e talvez por isso, acho que vou saber aproveitar melhor quando você surgir na minha vida.





Lembro de quando te conheci e do quanto você parecia ser protetor comigo, pelo menos era isso que eu achava. Eu me sentia protegida e segura pela forma como você me tratava, achava que suas atitudes eram por se importar e querer cuidar de mim. Será que eu errei esse tempo todo?
Foi em uma balada que nos conhecemos. Você chegou em mim e me chamou de gostosa. Disse que meu vestido te provocava e que se pudesse me comeria ali mesmo. Achei que você estivesse bêbado e não vi isso como uma ofensa. Até mesmo porque estou acostumada nesse tipo de abordagem. Tentei sair de perto, mas você me agarrou, me beijou à força e colocou a mão por dentro do meu vestido. Consegui me desvencilhar, fiquei com medo e fui embora.
Posteriormente nos encontramos em diversas festas e você sempre criticava o fato de eu estar bebendo. Dizia que era feio uma mulher estar sempre com um copo de bebida na mão, que eu não podia fazer escândalos, que isso era errado. Mas você fazia o mesmo. Então qual é o problema em eu me divertir?
Mas achei que você pudesse ter percebido o erro que cometeu quando nos conhecemos e estivesse tentando me proteger de alguma forma. E aceitei quando você me convidou para sair.
Eu já havia ficado com muitos outros homens antes de te conhecer e você me criticava por isso, dizia que eu não poderia ser “fácil”, que eu tinha que “me dar o valor”. Eu não conseguia entender o que havia feito de errado, mas você me fez acreditar que tinha razão e eu me sentia culpada por isso, me sentia culpada por ter sido tão “vagabunda” até então. Você dizia que esse meu comportamento demonstrava que eu era uma mulher apenas para comer e não para ter um relacionamento sério. Mas o engraçado é que nós transamos no nosso primeiro encontro e foi uma noite maravilhosa, tanto para mim quanto para você. Então o que havia de errado nisso? E se a regra valia pra mim, porque não valia para você?
Você criticava minhas roupas. Dizia que meus vestidos eram curtos demais. Que eu estava querendo provocar os homens me vestindo do jeito que me vestia. Que eu não podia ser assim, que eu não podia me oferecer para os outros. E que se algo acontecesse comigo, a culpa seria minha.