Ela não se sente amada e já se acostumou com isso. Ela não consegue confiar nas pessoas e consequentemente não consegue fazer amizades, e no final, as pessoas sempre acabam indo embora ou ela acaba se isolando. Ela é reservada, não consegue contar o que sente ou dividir seus problemas, mas todos confiam nela, todos se sentem protegidos quando ela está por perto. Quando alguém precisa, ela sempre é a primeira que procuram, mas o contrário nunca acontece, quando ela precisa, ela não procura ninguém. Ela acha que ninguém se importa, ninguém percebe quando ela está mal e ela não deixa ninguém chegar perto. Mas ela é carinhosa e atenciosa com as pessoas que gosta, faz de tudo para estar ao lado de quem ama, aguenta as dores alheias, mesmo que as suas dores sejam maiores. Tenta ao máximo fazer o bem para os outros, mesmo achando que ninguém faria o mesmo por ela. Ela se sente estranha por isso, distribui tanto amor e não consegue sentir que isso seja retribuído. 






É triste perceber que o amor que sinto por você não é correspondido. Tivemos todas as oportunidades para sermos felizes juntos, mas algo deu errado no meio do caminho, você simplesmente não sente o mesmo que eu. Em todos os momentos que você precisou, eu estive ao seu lado, eu fui amiga, confidente e amante, mas isso não foi o suficiente. Você não estava disponível para mim e eu não poderia amar por nós dois. Essa dor dilacerante que está no meu peito em algum momento vai acabar se curando, mas isso não significa que eu vou deixar de te amar. A gente não escolhe por quem se apaixona, e se eu pudesse escolher, não escolheria você. Mas você é perfeito pra mim, quando eu acordo, você é o meu primeiro pensamento e quando vou dormir, sonho com você. Lembro de você em cada instante, pelas coisas mais simples, você não sai da minha cabeça. Mesmo que hoje tenhamos nos afastado um pouco, meu sentimento não mudou, ainda penso em você, lembro dos seus beijos e das suas carícias e queria entender onde foi que eu errei, como não consegui fazer com que você se apaixonasse por mim? Sei que não posso me sentir culpada por isso, como eu disse, a gente não escolhe por quem se apaixona, e eu tenho certeza de que se você pudesse escolher, me escolheria, porque ninguém te dá atenção e te cuida tão bem quanto eu. Quando você me fala dela, meu coração se desfaz em pedaços, não apenas porque eu gostaria que você me amasse dessa forma, mas também porque sei que ela não sente o mesmo que você, e dói em mim te ver sofrer, saber que a importância que você tem para ela é a mesma que eu tenho pra você: insuficiente. 





As pessoas me olham e me perguntam se estou bem. Eu sempre respondo que sim e elas sempre acreditam. Na verdade estou um caos, mas sei que a maioria das pessoas não teria paciência para ouvir o que tenho a dizer ou talvez até me ouvissem, mas na metade do meu discurso se distrairiam e não se preocupariam de fato comigo. Eu tenho essa mania de achar que as pessoas não se importam com o que acontece fora do mundo delas, é como se apenas as suas próprias angústias fossem importantes e o resto do mundo não mereça a mesma atenção. Eu sempre me preocupo com todos que estão ao meu redor, escuto os problemas alheios, dou conselhos, estou pronta para ouvir, em qualquer circunstância, mas quando é comigo, a situação muda completamente. Não encontro alguém que tenha disponibilidade em me ouvir, em estar ao meu lado e isso faz com que o mundo desmorone sobre a minha cabeça. É difícil explicar tudo o que está me consumindo e você não teria paciência para me ouvir, talvez você nem esteja interessado em ouvir o que eu tenho a dizer. Mas eu estou bem, ao menos tento fingir que estou. As pessoas acham que eu sou forte ou que talvez eu não tenha problemas, porque essa é a impressão que eu passo, que está tudo bem, nada me abala, nada me atinge. Como eu gostaria que isso fosse verdade, gostaria de não sentir as coisas tão intensamente dentro de mim, porque essa dor que me sufoca não é passível de ser explicada em palavras, esse vazio aqui dentro não há como ser preenchido. E eu digo que estou bem. Não quero ter que me explicar ou que as pessoas tenham pena de mim, é difícil entender o que se passa comigo, sei que essa angústia vai cessar, mas nesse exato instante, ela está me consumindo e ela vai acabar comigo. 






Ela acordara morrendo de ansiedade, pois sabia que sua mãe havia escondido os ovos de Páscoa em algum lugar e ela precisaria procurá-los através de pistas. Todo ano, sua mãe deixava pistas pela casa e pegadas de coelho para que ela pudesse estar pronta para a caça e encontrar seu tesouro: chocolate.
A cada ano, as dificuldades aumentavam, o que acabava tornando a brincadeira mais divertida e desafiadora. Mais do que os chocolates que ganharia como recompensa, o que a deixava feliz era ter essa tradição, ter esse momento de diversão com sua mãe e depois se lambuzar de chocolate com ela.




A menina sabia o quão significativa era aquela data, a ressurreição de Jesus Cristo, que morreu por nós, mas além disso, também sabia o quanto esses momentos com sua mãe eram, da mesma forma, importantes, já que além de refletir sobre o significado da data, era um daqueles dias em que tinha a atenção exclusiva da pessoa mais importante da sua vida: sua mãe.
Ela não queria que a infância acabasse, que esses momentos se dissolvessem, mas tinha certeza de que quando isso chegasse ao fim sentiria falta desses momentos, guardaria todas as lembranças com muito carinho e quando tivesse seus próprios filhos, criaria tradições parecidas com eles, para que os mesmos pudessem se recordar disso pelo resto de suas vidas, assim como era com ela.