Me sinto em um turbilhão de sensações, acho que estou em crise existencial. Mas não faz sentido eu vivenciar uma crise justamente nesse momento da minha vida, sou tão nova, e ao mesmo tempo, sinto que sou tão velha. Aos vinte e poucos anos é como se nada fizesse sentido. Se já estou assim agora, imagina quando chegar aos trinta? Eu quero tudo, vivenciar a vida na maior intensidade possível, aproveitar os estudos, o trabalho, as festas, as viagens, tudo o que a vida puder me oferecer; mas ao mesmo tempo não quero nada, quero apenas dormir, porque sinto como se não tivesse forças para continuar e não vou ter tempo para alcançar tudo o que desejo. Sinto como se precisasse correr contra o tempo para fazer tudo o que preciso.
Tenho a sensação de que todos a minha volta estão com uma vida melhor, mesmo que estejamos na mesma faixa etária. E não sei o que há de errado. Vejo antigos colegas de escola se casando e percebo que tudo deu errado na minha vida amorosa. Não que meu objetivo de vida seja o casamento, mas sinto que a vida poderia ser melhor se eu tivesse encontrado a pessoa certa pra mim, poderia ter alguém para compartilhar a vida, mas eu não tenho. Como os outros conseguem viver um bom relacionamento, menos eu? Será que eu tenho algum problema? Qual o sentido de ainda não ter encontrado uma boa pessoa? Provavelmente, o problema sou eu. Vejo amigas com seus lindos bebês, o que me desperta a vontade de ser mãe, mas fico na dúvida se seria boa nisso. Todos os que conheço fazem viagens melhores do que eu e parecem viver situações muito mais interessantes do que eu. É como se a vida de todos estivesse dando certo e eu estivesse parada no tempo.




Eu gostaria de entender o que deu errado. Onde foi que eu errei. Em que momento eu te perdi. Achava que ficaríamos juntos para sempre, a gente tinha tudo para dar certo, mas em algum momento isso se acabou. Você foi se afastando de mim aos poucos e eu não consigo entender como eu deixei isso acontecer. Quanto mais você se afastava, mais eu tentava te trazer de volta, e eu falhei em todas minhas tentativas, porque você nunca quis voltar. Eu forçava sua presença, mas você queria ir embora. Eu me humilhava para ter um pouco da sua atenção, eu te dava todo meu amor para ter migalhas vindas de ti. Você demonstrava não estar mais interessado, mas eu insistia. Insistia porque preciso de você. Talvez meu maior erro seja esse: ter necessidade de você. Acho que os meus sentimentos se tornaram doentios, e não sei se a culpa disso é minha ou sua. 
Fico completamente enciumada ao ver você com outras pessoas, me destrói ver que você encontra felicidade com outra e não comigo. Meu ciúme acabou comigo e tirou você de mim. Você foi embora e eu fiquei. Fiquei e sinto falta de você. Falta dos nossos momentos juntos, de acordar e ter você ao meu lado, de ver seu sorriso, de brincar com seu cabelo, de você por inteiro. Você foi embora e deixou a dor comigo, essa dor que eu não consigo aguentar, que sufoca meu peito e parece que vai explodir a qualquer momento. 





Eu tenho uma grande dificuldade em me aceitar, em todos os aspectos. Fisicamente, me acho inadequada, estou completamente fora de todos os padrões impostos pela sociedade. É fácil dizer que precisamos nos aceitar como somos, mas como fazer isso quando toda a sociedade diz que você precisa mudar para ser realmente aceita? Às vezes é cansativo não estar dentro do padrão, e quanto mais se tenta, mais parece que esse é um objetivo inalcançável. Cansei de tentar, mas não consigo me aceitar. Quero ser quem eu sou, mas tenho dificuldades nisso, porque também quero ser aceita.
Vale a pena mudar para ser aceita e agradar aos outros? Ou é melhor ser quem se é, mesmo que isso implique em não ser aceita pelos demais? Como lidar com isso? São tantas dúvidas que acaba sendo impossível decidir o que fazer.




Não consigo aceitar minhas particularidades porque me ensinaram que não faço parte do que é considerado ideal. Quando alguém diz: “Você é linda!”, eu tenho certeza de que está apenas dizendo isso para me agradar, mas não é verdadeiro. E isso é estranho e doloroso. Como aceitar a sua não-beleza? Eu aprendi o que é considerado belo e não faço parte disso. Mas resta aceitar que não tem problema. Não tem problema ser diferente. Não tem problema não estar dentro dos estereótipos esperados. Não tem problema ser quem eu sou. Por mais que eu saiba que realmente não tem problema, aceitar esse fato ainda é difícil, talvez eu nunca consiga aceitar, talvez eu sempre acabe buscando preencher algum requisito que a sociedade impõe. Realmente não sei. Mas não me diga que sou bonita, pois nisso, eu não irei acreditar.

Ela sempre desejou que esse momento chegasse, quando ainda era adolescente havia criado em sua mente tudo o que pudesse ter relação com ela, havia idealizado suas características físicas e sua personalidade, pensava nela todo o instante. Seus sentimentos se misturavam em uma grande contradição, ansiedade e preocupação pelos cuidados que precisaria ter pelos meses que se seguiam e uma felicidade e amor imensos por esse pequeno ser. O teste havia dado positivo, ela estava grávida.
Contar a notícia ao marido era ter alguém com quem compartilhar aquele momento maravilhoso na sua vida. A cada sensação nova relacionada aquele ser que estava crescendo dentro de si era comentada com entusiasmo, ela queria dividir com todos os que estavam ao seu redor o quanto era gratificante gerar uma vida. As alterações de humor e os enjoos a incomodavam, mas nada poderia estragar a sua felicidade, a vida era boa demais para que ela se preocupasse com isso.





Uma vez, uma personagem de um seriado disse: “As pessoas sempre vão embora”. E eu tentava não acreditar nisso, até porque nunca quis ir embora, mesmo quando sentia a necessidade disso, mesmo quando achava que ir embora seria melhor. Talvez eu tenha dificuldade em deixar as pessoas irem embora, porque tenho comigo que, se você quis entrar na minha vida, o ideal seria que permanecesse nela para sempre. Eu demoro para deixar as pessoas se aproximarem, mas quando deixo alguém tocar minha alma, não quero que ela vá embora, quero ter para sempre sua companhia. Como lidar com o fato de que o “para sempre” não existe? Como lidar com o fato de que as pessoas realmente vão embora? Algumas pessoas vão estar presentes apenas em determinados momentos, outras você vai acreditar que estarão para sempre com você, mas talvez não estejam...